hoje vamos falar de morte. mas vai ser soft. trust me. até porque cá para mim não existe outra forma para falar sobre a morte se não assim. ora vamos lá a isto. cada vez mais acredito que nós somos todos feitos de matéria. que um dia desaparecemos e tudo acaba. tal como acaba para os ratos que vemos mortos no passeio. e para as gazelas que são caçadas pelos doidos dos leões esfomeados na savana. a verdade é que nascemos, fazemos o nosso papel - seja ele qual for - e morremos. para sempre. esta semana morreu um familiar meu. foi horrível. principalmente a forma como morreu. e a injustiça que é ter morrido ela e não um velho qualquer com mais de oitenta anos. a verdade é que dei por mim a pensar na efemeridade da vida. ontem estava viva. hoje já não está. e nós continuamos com a nossa vida. os semáforos continuam a passar de verde para encarnado. o trânsito em lisboa continua igual. continuamos a acordar todos os dias para trabalhar. e continuamos a ter de ir às compras para termos o que comer em casa. com a diferença de que aquela pessoa (e tantas outras) já não existe - com corpo. mas cá para mim, as pessoas só morrem quando deixamos de pensar nelas. de falar nelas. de as fazer existir nas nossas vidas. parece contraditório mas não é. vejamos. o corpo, de facto, deixa de ter vida. já não conseguimos ouvir a voz. sentir o toque. já não podemos barafustar, discutir - e a verdade é que já nem nos apetece. mas dos que morrem ficam em nós as memórias - em fotografias, vídeos, em momentos aleatórios gravados na nossa cabeça. e fica também a missão de os manter vivos. falando deles. sentindo saudades. fazendo-os existir. gostava que quem está a ler este texto visse um filme que veio reforçar o que pensava sobre a morte - só morre quem é esquecido. o filme é em desenhos animados, mas não se deixem enganar. vejam. é o coco. é revoltante. não queremos que ninguém morra. mas já que assim é aceitemos com naturalidade. e continuemos a fazer com que as pessoas existam mesmo depois de deixarem de existir.
sexta-feira, 30 de novembro de 2018
segunda-feira, 19 de novembro de 2018
joana amnésia
dos vários problemas graves que eu tenho há um que se destaca. a amnésia. e estou a falar a sério. isto preocupa-me. não me lembro de várias coisas. nunca me lembro dos aeroportos dos sítios onde vou. e não é para me armar em esperta, mas já estive em alguns sítios. se calhar é por isso que não me lembro? em conversa sobre viagens não me lembro de coisinhas. lembras-te daquele jardim em estocolmo onde um senhor nos pediu não sei o quê? não faço puto de ideia. tenho ar a passar no cérebro. e quando fomos ao hard rock em copenhaga? pi.... zero. não me lembro, juro. e tenho de pedir que me ajudem a lembrar falando desse dia. da zona, o que aconteceu. o que seja, pistas. imploro para que não desistam de mim - vá lá, ajudem-me. vamos jogar ao jogo da memória! e a verdade é que pouco a pouco vou chegando lá. pareço uma velha com demência. portanto para mim o jogo da memória é isto e não aquela porcaria de virar as cartas ao contrário até fazer pares. e eu juro que joguei muito disso em miúda. imaginem. coisas que combino. passam dias e esqueço-me. talvez por isso seja como que alérgica a planos. porque me esqueço deles. tu queres ver? todas as coisas que eu tenho de fazer anoto no telemóvel ou no calendário porque se não esquece, já era. e isto não devia ser assim. porque sou uma miúda nova que devia ter os miolos no sítio, não é? o pior é que não tenho. e sei bem disso.
échetégue instaláife
há uma questão que tem vindo a ocupar algum tempo da minha vida. vejo colegas da faculdade - com vinte e quatro, vinte e cinco anos - a casar e a ter filhos. e fico confusa. não estava à espera que esse boom de casamentos e bebés acontecesse tão cedo nas gentes da minha idade. a questão que se impõe é: de onde vem o dinheirinho para alimentar as crianças? e a escola? e as fraldas? é que eu sustento um cão que toma comprimidos todos os dias e a brincadeira não sai nada barata. para além de que tem de comer e volta e meia toca de ir ao veterinário. ajudem-me. como fazem? deixam de viajar? jantam todos os dias massa com atum? arroz com frango? vivem num tê zero em loures? os papás (supé ricos e supé de bem) patrocinam e têm a vida que sempre tiveram só que agora com mais um ou dois bebés? fico confusa com todas estas questões básicas que parecem passar ao lado das publicações de instagram. o mesmo com os casamentos. é uma grande merda pensar assim, mas de facto acredito que seja verdade. já estamos tão dentro do loop das redes sociais que nem damos conta - vivemos para mostrar aos outros que vivemos. ele pede a sua amada em casamento, mas só é válido se publicar no instagram. ela só está grávida se publicar uma fotografia a dizer de quantas semanas está. a lua de mel é publicada ao segundo sempre em sítios supé de bem - com água quente e azul num dia e leões e zebras no safari no outro. é moda publicar a fotografia à saída da igreja - sim, porque são todos supé católicos e casam pela igreja, mas se for preciso nem rezar o pai nosso sabem. e se for preciso o casamento dura uns meses mas o que importa isso? deus perdoa tudo e todos, não é assim? eu acho, de verdade, que devemos todos parar para pensar um bocadinho no que se passa à nossa volta. a vida na internet é tão perfeita que às tantas já nem aceitamos que assim não o seja. espero que quando casem seja porque acham mesmo que vão ficam com aquela pessoa para sempre. e que quando têm bebés não achem que é como ter cães que duram uns dez, quinze anos e tá arrumado. há que educar. é que se for para trazer ao mundo mais gente malcriada mais vale estarem quietinhos. sou mesmo má. que horror.
sexta-feira, 26 de outubro de 2018
fui novamente submetida
bom dia, seus lindos e lindas! o que eu gosto mesmo é de falar nas minhas experiências que envolvem o mundo da saúde. médicos. enfermeiros. técnicos de saúde. todos os que têm de mexer neste corpinho, um pedaço de céu, para o deixar saudável. é disso mesmo que venho falar hoje. eis que fui novamente submetida à medicina do trabalho. dizer que adiei a marcação quatro ou cinco vezes já não é preciso. olá boa tarde, não no dia oito não me dá jeito. outra. que chatice, só hoje é que reparei, tenho uma reunião não vou conseguir ir. consegue ver-me outra data, por favor? outra vez. olhe nesse dia não posso porque vou estar de férias, vamos tentar marcar para depois? e pronto. teve de ser. dia vinte e quatro de outubro de manhã toca de fazer chichi para o copo. podia entrar aqui em pormenores e contar como foi fazer chichi para o copo às seis da manhã, mas vou deixar-vos imaginar. tentei evitar ao máximo pensar na última vez que tinha ido fazer análises, porque o pré não tinha corrido nada bem (é ler aqui). andava com a mania que não podia sair de casa sem comer e meti na cabeça que ia cair para o lado. enfim, para prevenir qualquer episódio desses jantei que nem um animal no dia anterior para ver se armazenava comidinha até à manhã seguinte. e não é que me aguentei? fui. apanhei trânsito. barriga sem fazer barulhos. cheguei. tive de esperar, claro. barriga continua controlada, sem ganir. eis que me sentei na poltrona. então diga-me lá qual é o seu melhor braço. olhe não sei, veja e faça no que achar melhor. mas eu vou fechar os olhos para não se me dar uma coisinha má, está bem? estou-me pouco borrifando se sou fiteira ou não. mas quanto menos agulhas vir e quanto menos as vir a espetarem-se em mim melhor. só de sentir aquela porcaria a romper-se-me a pele já me tira a vontade de ter bebés. bom. avancemos. eletrocardiograma. desta vez deixaram-me não tirar o soutien. dispa-se da cintura para cima e deite-se na marquesa. pode deixar o soutien. e eu incrédula - nah, pode deixar o soutien, terei ouvido bem? - perguntei se era mesmo assim. e era. que bom, menos uma a quem mostro as mamas. boa. estou muito contente. não quinei até fazer as análises. tomei um belo pequeno almoço na padaria portuguesa e não tive de sacar das mamas para fazer o eletrocardiograma. o dia até estava a correr bem. siga para a ecografia mamária. sim, foi dia de mamas. eis que me chamam. dispa-se da cintura para cima, o soutien também, e deite-se na marquesa. oh que merda, estava a correr tão bem. pronto. vai de mostrar mamas. e aqui é que me começo a chatear. não é que me deixam de mamas ao léu deitada praí durante uns quatro minutos? ao frio? onde está o respeito? enquanto estou de mamas em riste está a tipa a gravar não sei o quê para o computador e as mamas e a dona delas que esperem. passado quase um dia e meio aproxima-se de mim - e das minhas mamas, mais das minhas mamas que de mim - com um sorriso de quem está a pensar foda-se são onze da manhã e hoje este deve ser o vigésimo par de mamas que vejo. adoro o meu trabalho. braços para cima, por favor. toca de apalpar. tem alguma dor, alguma queixa? não, não tenho. despacha mas é essa merda que não tenho por hábito falar com mulheres de mamas à banda. toca de esfregar as mamas com gel. olhe, joana. está fantástico, está tudo bem. não tem nada! e pronto. deixa-me ali despida coberta de gel nas mamas e ela a olhar para mim enquanto me limpo de forma nada sexy. isto tinha tudo para ser normal, se ela não tivesse sido anormal. entretanto ficaram a saber que está tudo bem com as minhas mamas. how cool is that?
terça-feira, 1 de maio de 2018
sair, não sair?
ando com alguma dificuldade em perceber quando devo ou não sair de casa. não que esteja mal. mas porque cá me parece que não tarda está na hora de ser adulta de verdade - ou pelo menos fingir. de vez em quando vou vendo casas - como que estudando o mercado. ando a ver se com o que ganho conseguiria ou não pagar uma casa. e na verdade até conseguia. mas jantares fora não podiam ser quando me desse na real gana. viajar, só se fosse à costa da caparica. talvez tivesse de cancelar o ginásio - que é um sacrifício para mim já que passo lá metade da minha vida, porque sou uma viciada em exercício físico e o que gosto mesmo é de encher como na tropa. para além de que tenho uma cadela para tratar. implica despesas de veterinário. e, vai se lá saber porquê, ela também tem de comer - vejam só. para além de o dinheiro ser um fator importante nesta mudança, há também a questão da maturidade. hoje a fazer torradas de manhã dei com a torradeira a arder. mesmo com chama. para além de o pão ter ficado queimado e eu ter ficado sem pequeno almoço, fiquei a achar que ia incendiar a casa toda e chamei pela minha mãe como um bebé. mãe! mãe! anda cá! rápido! até que entretanto dei conta da coisa e quando a minha mãe chegou já tinha passado, claro. mas visto que chamo pela minha mãe ao ver uma chama numa torradeira, se calhar não estou assim tão preparada para sair de casa, pois não?
segunda-feira, 23 de abril de 2018
pago para levar pancada e gosto
dores e mal-estar. é disto que se vai falar hoje. já há muito tempo andava com dores nas costas. lombar, pescoço e por aí em diante. eu sou daquelas pessoas que quando tem uma constipação parece que o mundo vai acabar. mas por outro lado, sou zero hipocondríaca. e como até aguento estas dores internas - como gosto de lhes chamar -, médicos nem vê-los. ora. já com dores acumuladas há muito tempo. mesmo muito tempo. hoje foi o dia de ir a um especialista. e não foi a um médico - porque já toda a gente sabe que hei de morrer podre -, mas sim a um fisioterapeuta. foi então hoje que percebi que nós não passamos de matéria. carne e osso é do que somos feitos, tal como uma galinha, uma vaca ou qualquer outro animal que queiram chamar para a conversa. o tipo deu-me uma tareia como nunca tinha levado. e não vale levar isto para a porcaria, está bem? e o mais giro é que gostei - continuem com a frase anterior em mente, por favor. serei masoquista? talvez. na verdade, agora estou com mais dores, mas dizem os entendidos que depois melhora bastante - aguardarei por resultados. para além de que fiquei fascinada com a perícia dele a mexer em todos os meus ossos e músculos. hoje percebi que realmente debaixo desta cara bonita está um esqueleto nojento, igual a todos os outros e igual a ti que estás a ler. o tipo pegou-me no crânio - aqui pela parte de trás do pescoço, pois claro - e deslocou-o. puxou-me tudo para cima como se de uma vaca no matadouro se tratasse. não que puxem os crânios às vacas durante a matança, mas foi a imagem que criei na minha cabeça. e afinal era eu. joana, tenho nome. tenho sentimentos - nem sempre, mas tenho. e estava ali a ser esfregada como gente grande. o balanço é positivo e acho que vou passar a ir à tábua da tortura uma vez por mês. sou estranha ou isto é mesmo assim e, na verdade, todos gostamos de levar pancada? sou estranha, não é?
segunda-feira, 16 de abril de 2018
gosto muito de motas
vou entrar a pés juntos: um tio meu morreu a andar de mota. desde então temos como que uma alergia a motas. seja conduzi-las, ir à pendura, ou vê-las passar. mas aqui o que me deixa mais nervosa é que cá me parece que os senhores - mais eles que elas - gostam de morrer a conduzir motas. ou se não gostam mentem bem. hoje vinha na autoestrada para lisboa - ia a cento e vinte pela esquerda. vi uma mota a aproximar-se e comecei a ficar nervosa, porque já sei que estes tipos se metem em qualquer buraco. já em cima de mim o tipo estava a chegar-se ainda mais para a esquerda a querer ultrapassar-me. e ultrapassou. por ordem, o cenário era o seguinte: o separador de estrada - cimento, coisa leve - o estupor da mota e eu. agora digam-me. este senhor tem um gostinho especial pela morte, não tem? será que já experimentou e gostou? será que o meu tio pensava assim? e o pior é que se por acaso tivesse dado em acidente e o tipo tivesse ido ter com os anjinhos, ainda que a culpa fosse dele, quem o tinha morto era eu. portanto, seus atrasados mentais. se curtem viver a vida no limite e andar de mota é que é bom, mantenham-se longe e espetem-se contra uma árvore, por exemplo. tenham juízo ao conduzir essa merda com duas rodas. porque nós, no carro, ainda temos chapa, vocês vão mesmo de cornos ao chão. demasiado sério, não foi?