terça-feira, 23 de abril de 2024

japão olhado por mim

escrevo sobre os desafios até agora, ou talvez apontamentos, sobre o japão. uma das razões porque gosto de viajar sozinha é deixar-me estar mais atenta ao que me rodeia. vamos a alguns pontos que identifiquei.


barreira linguística: esta é fácil demais, no sentido em que todos temos uma ideia de que no japão se fala muito pouco inglês. o google tradutor com imagens tem sido uma boa ajuda. a barreira linguística acaba por ser engraçada porque embora não percebam nada do que dizemos mantêm-se simpáticos e esforçam-se para conseguir comunicar. quando não se conseguem safar sozinhos pedem eles ajuda para que me possam ajudar a mim. é complicado um japonês deixar-nos na mão. querem muito ajudar, nem que seja por gestos. também já aconteceu bastante. eles sorriem muito, eu devolvo, agradeço e sigo caminho.


o metro: às vezes pode ser confuso porque há várias entradas diferentes para a mesma estação, mas correspondem a linhas diferentes. a quantidade de linhas é absurda, mas no final está tudo muito bem indicado. e também aqui o google maps ajuda bastante. eis que em alturas de maior cansaço apetece largar tudo e apanhar um taxi - que é muito muito muito mais caro. é a diferença entre gastar um euro ou quinze. nestas alturas em que apetece largar tudo faço uma pausa e paro de procurar. vou buscar uma bebida, entro numa loja e desvio o foco de stress. quando volto à saga já passou o desespero e já estou novamente encontrada. sigo caminho, poupei uns euros e geri-me. 


comem muito rápido: os japoneses comem muito rápido. sorvem as ramen como se fossem copos de água. nada contra o barulho. para mim não deixa de ser nojento, mas entra a adaptação em campo e também eu sorvo os noodles. já várias vezes chegou a comida ao mesmo tempo que aos vizinhos do lado e quando ainda vou a meio eles já acabaram e já foram embora. 


restaurantes: há muitas pessoas a comer sozinhas em restaurantes. há até vários que são específicos para estes clientes. são balcões corridos, virados para a parede ou para a cozinha, com vários compartimentos separados por mini-biombos. cada compartimento é um lugar. o pedido é feito e pago numa máquina logo à entrada. não é preciso falar com ninguém. escolhem, pagam, comem (rápido) e vão-se embora. daquilo que vou percebendo, a maior parte destes clientes sozinhos são homens. 


não cruzam as pernas: seja no metro ou em restaurantes vejo poucos japoneses a cruzar as pernas. na escola são ensinados a sentarem-se com modos - os dois pés no chão e costas direitas. o cruzar de pernas pode ser identificado como desleixe. apercebi-me disto quando cruzei as pernas no metro e toquei sem querer na pessoa do lado. pedi desculpa, mas percebi que houve um desconforto fora do que estou habituada. quando olhei em volta vi que era a única com as pernas cruzadas. rapidamente me pus em sentido. efetivamente, o movimento e a posição de cruzar as pernas mais rapidamente incomoda alguém do que se não o fizermos.


os bancos são baixos: esta observação toca-me especialmente na alma porque noto diferença no conforto quando me sento aqui comparando com quando me sento nos transportes e restaurantes da europa. aqui chego sempre totalmente com os pés ao chão. e isso aquece-me o coração. e as costas também agradecem. 


o tamanho das calças: outro ponto que me vai direto à alma. aqui a maior parte das calças são curtas. as japonesas são baixas e, por isso, as calças também. para quem costuma estar dependente de bainhas isto é um super plus. já comprei dois pares na gigantesca uniqlo no bairro de ginza. 


as portas dos elevadores: não vai sair daqui grande ciência, giram as expectativas, por favor. nos elevadores quando se carrega no botão de “fechar portas” as portas fecham imediatamente. não existe a necessidade de carregar insistentemente como se estivéssemos a ser eletrocutados. é um detalhe, mas é apaziguador de tão bem que funciona. 


não há caixotes do lixo na rua: por alguma razão que ainda não descobri não existem quase lixos na rua. e nem por isso as ruas são sujas. o que se vai vendo mais ainda são os lixos só para as garrafas de plástico porque estão ao lado das vending machines que estão por todo o lado. o resto do lixo é deitado fora em casa ao final do dia. tenho-me safado a utilizar os lixos das casas de banho que vou encontrando e que são bastantes. há mais casas de banho que caixotes do lixo na rua. 


respeito nas entradas/saídas: à entrada e saída das carruagens do metro, restaurantes e lojas não há dúvidas sobre quem avança primeiro. e aqui, em caso de dúvida, percebe-se bem quando a pessoa do lado não é japonesa, mas sim chinesa. os japoneses respeitam, os chineses são bons a desrespeitar. dúvidas rapidamente deixam de existir quando se observam os comportamentos de ambos. 


não há porque ter medo: tenho notado por várias situações que o japão é um lugar seguro. os clientes chegam aos cafés e deixam os computadores e mochilas na mesa enquanto vão fazer o pedido. não ficam de olho em nada, nem sequer olham para trás. abandonam por completo confiantes de que as coisas lá estarão quando voltarem - e estão. hoje já é dia de escola e vi muitos miúdos muito pequenos sozinhos no metro e na rua. na maior parte das vezes andavam pelo menos aos pares, mas são muito pequenos. diria com uns cinco anos. ao início, quando ainda não tinha percebido que andavam crianças sozinhas na rua, achei que fosse um anão a passar por mim. ando na rua à noite e nunca fui olhada de alto a baixo nem nunca ninguém se meteu na minha bolha. 


sempre achei que seria boa ideia viajar sozinha para o japão. a única coisa menos boa é que efetivamente são pouco dados a socializar, ainda que pouco. as conversas que tenho tido por aqui são com pessoas ocidentais - que também elas estão sedentas de contacto em inglês. beijinhos, arigatou gozaimasu.

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