estou no hospital e o ambiente é de gente doente. inesperado, bem sei. a memória de ter estado aqui, nesta mesma sala, a sentir-me como algumas pessoas se sentem agora não está assim tão distante. as caras carregam dores e sofrimento. ouvem-se suspiros e gemidos contidos. não estou assim. ainda bem. mas preferia não estar aqui de todo. ao meu lado uma jovem inquieta. bate com os pés como que a descansar de estar em pé há uns belos minutos. há muitas cadeiras livres, mas não se quer sentar. bate de novo os pés. está encostada à parede de mãos atrás das costas. decide cirandar. está impaciente e com cara de poucos amigos. farta-se de bocejar. volta a encostar-se à mesma parede. eu escrevo, observo e leio. quando era jovem e irresponsável só vinha ao hospital quando tinha mesmo de ser. hoje mantenho opinião, mas deixei-me de extremos. crescer também é isso. comecei ontem a sentir que estava a chocar uma amigdalite - amígdalas inchadas com neve em cima e garganta a querer fechar. se fosse há uns anos só vinha ao hospital depois de estar uma semana em sofrimento e com trinta e oito de febre. hoje em dia para além de já não ter capacidade de gerir dores intensas, não tenho tempo para estar doente. a semana avista-se longa e estar doente não está na agenda. trouxe um livro para me entreter, mas a verdade é que observar e escrever me entretém mais. fui vista pela doutora que disse ai que horror! calma, doutora. não está assim tão mau. já vi amígdalas piores. passaram duas horas. vou-me embora plena e com penicilina a correr-me no sangue. tou cheia de fome, vou jantar. amanhã ainda é domingo, ufa. télógue.
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