o tempo hoje demora a passar. olho para o relógio e a hora quase não muda. vejo uns minutos à frente que parecem horas atrás. o tempo parece estagnado, mas a vida continua a acontecer. pessoas chegam, sentam-se, comem e seguem. outras estudam. têm o computador e camadas de folhas impressas a ocupar a mesa. não lhes invejo a vida, embora seja leve em preocupações. sei onde estou, mas não sei bem o meu lugar. acordei com a alma cinzenta e apetece-me escrever. nem todos os dias têm de ser bons, embora goste mais dos bons que dos maus. hoje estou inerte e confinada - não em casa, mas na rua. não gosto da sensação, mas vai passar. ontem foi um dia bom. amanhã também será. hoje é tempo de parar e escrever sobre o que me apetecer, como em qualquer outro dia. mas hoje com um cheirinho de introspeção. hoje escrevo sobre os dias em que apetece estar na cama em posição fetal com botija de água quente nos pés. hoje escrevo sobre os dias que ninguém fala, porque não se dá parte fraca. na verdade, a vida é boa e essa é a parte mais gira de se mostrar. mostramos mais do que vivemos e isso torna-se confuso. na internet, como quem diz a vista de uma rua virtual movimentada, todos parecemos bem. todos sorrimos e rimos. somos otimistas. mas há poucos que o são na verdade. gostamos de nos mostrar bem, mesmo quando não estamos. talvez numa tentativa de camuflar o que sentimos, mas nem por isso estaremos certos. parece-me que dar espaço para sentir coisas menos boas também é bom. aliás, fundamental. porque é impossível estarmos sempre bem. tal como é impossível estarmos sempre mal. gosto de assumir que a vida é mais complicada que fácil, porque sinto-o. mas nem por isso vivo em conflito. é o que é. dá-me alguma tranquilidade pensar que sou capaz de a tornar fácil, à minha medida. ainda bem que hoje está a ser um dia menos bom (ou talvez apenas uma manhã) porque não faria esta reflexão se estivesse num dia bom. ou talvez fizesse, mas não a estaria a escrever. também eu mostro mais o lado bom da vida. é esse que me dá mais energia e onde gosto de me focar. voltei a olhar para o relógio e andou bem mais rápido do que no início deste texto. à medida que escrevo vou ficando menos confinada. e o tempo passa ao ritmo certo. escrever faz-me bem à alma. faz sempre. beijinhos, muitos muitos.
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