segunda-feira, 22 de agosto de 2022

ljubljana ficou um bocado minha

estava em veneza para visitar as ilhas de murano e burano. esta última bem gira, recomendo. uma terrinha very typical e pitoresca e fofinha. tudo de bom. duas horas chegam para palmilhar burano. o plano (sempre feito de véspera) era ir de veneza para ljubljana de comboio, mas esgotou. caput, como me disse uma italiana nos seus setenta acabados. vamos aos diário.

estou agora na estação à espera do autocarro e tou tensa. primeiro porque odeio andar de autocarro. mas o comboio esgotou e por isso tem de ser. segundo, porque não sei se estou na estação correta. vão ser quatro horas até ljubljana.

ora bem, é uma e meia da manhã e já estou instalada na minha cápsula. o tipo que me fez o check-in pareceu-me giro, mas é de noite e tenho sono. amanhã confirmo. a casa de banho é partilhada. não estava preparada. é o que é. tem que ser, vou ser forte. boa noite. agora percebo que isto não tem janelas, dass.

bom dia! que sono reparador. acordei por mim às nove e meia, mas achava que ainda era de madrugada porque a cápsula onde estou não tem janelas.

estou há dez minutos na rua e sou picada por uma abelha nas costas. não vi, só senti. apeteceu-me muito chorar, porque, epa, sou frágil com as abelhas. mas aguentei-me só com os olhos húmidos. desde então só vejo abelhas em todo o lado. estou tensa, mas vai passar. agora aproxima-se uma mosca e o meu frágil coração dispara.

nos restaurantes costumava tirar o meu kobo para ler, o meu diário e o telemóvel. estas três coisas estavam sempre em cima da mesa, eram a minha companhia. e muitas vezes era nos restaurantes, enquanto esperava pela comida, que escrevia.

algumas pessoas olham para mim a escrever, mas não me incomoda. aliás, até gosto porque estou a mostrar-lhes que estou a viver a minha liberdade. e estou mesmo. não a mostrar. mas a viver. só que inevitavelmente a mostrar. porque estou aqui e eles estão a ver-me.

vim a um restaurante caro. não estava à espera, mas agora vou embalada. o tipo é muito simpático. vou comer veado e estou com um belo copo de vinho branco à frente. é da zona de koper. o vinho, não ele. embora ele tenha tido muita graça a apresentar o vinho. porque lhe disse que estava habituada a “good wine in portugal”. vai sair uma nota, só o veado custa trinta paus. que se foda. tou na eslovénia solo traveling.

no autocarro para bled conheci uma holandesa, uma miúda que tinha acabado o curso de medicina. ainda lhe faltava todo um caminho de internato. os doutores não me deslargam. era o seu primeiro dia de solo traveling. neste dia só escrevi de noite ao chegar à cápsula que não tinha janelas, foi um dia muito intenso.

ora bem, são quase dez da noite e estou morta. hoje fui passar o dia a bled. ao entrar no bus comecei a falar com uma chica, era holandesa e era o seu primeiro dia de interrail. acabámos por passar o dia juntas. já estávamos na água. ela olhou para mim e perguntou se queria ir até lá ao fundo a nadar. sem pensar muito, ou aliás, nada disse “let’s go” e dei o sinal da partida. custou bastante, mas quando chegámos (talvez uns quarenta e cinco minutos depois) foi uma boa sensação. desafio superado. sabíamos que tinhamos de voltar. pensámos em alugar um kayak, mas ups, não tínhamos carteira. ficou tudo em terra na esperança de que ao voltarmos tudo estaria intocável. e assim foi. fomos uma boa equipa. acabou por ser um momento zen e de mindfulness ao mesmo tempo que sofríamos de cansaço e fome. não sei o que custou mais, se a ida ou a volta. falámos sobre isso e não conseguimos responder.

quando viajamos sozinhos é bom estarmos sozinhos, mas também sabe bem estarmos com alguém de quando em vez. este dia soube-me bem, aliás soube-nos bem a ambas. no final do dia voltei ao meu cantinho e ela ao dela. hoje mantemos contacto. ela continua em viagem e eu com inveja. a ir ao momondo a cada duas horas ver sítios para passar fins de semana fora até ao natal. voltar é bom, mas também calma. um dia ou dois para picar o ponto estava bom. 

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