terça-feira, 1 de setembro de 2020

sou uma alma velha e gosto

ao longo da vida vamos percebendo que existem formas de a tornar um pouco mais confortável. e gostamos disso. em adultos, a vida começa a custar demasiado para ainda termos de sofrer com coisas desnecessárias. a verdade é essa. se és um adolescente inconsciente não comeces já a estrebuchar, porque um dia vais dar-me razão – eu sei que é uma chatice ouvir isto, mas é verdade. pia fininho se fazes favor que a vida aguarda-te. se já estás nesta fase – alma de senhora idosa em fim de vida –, seguimos fortes. ora então, eis algumas regalias que começamos a exigir. deixamos de ter vontade de dormir em tendas. preferimos dormir numa camita. deixamos de ter pachorra para os amontoados nos concertos e preferimos pagar mais por um lugar mais confortável. e agora vou dizer-vos o que descobri este verão. estão preparados? é que eu não estava. ora bem. cá vai. levar cadeira para a praia. já disse. sinto que envelheci quarenta anos, já meio cansada da vida. mas sinto-me bem com isso. porque eu já descobri que levar cadeira para a praia é a melhor cena de sempre e vocês ainda não. é que depois de fazer isto uma vez deixei de ter vontade de deitar este corpinho de sereia na areia. para além de ter vista para o que eu quiser – mar, pessoas gordas a comer bolas de berlim (dá-me especial satisfação), famílias disfuncionais, crianças a acharem que a vida é linda demais, corpos bonitos (nos rapazes para galar, nas raparigas para invejar) – não sofro com dores nos pulsos e nos ombros. sinto que ao utilizar a palavra “galar” envelheci mais dez anos. acabo este texto com setenta e seis anos. achei que fosse pior. a gestão de expectativas também se aprende com a idade. agora envelheci mais cinco. já vou nos oitenta e um. e é melhor ficar por aqui que não estou preparada para um número maior. beijinhos.

Sem comentários:

Enviar um comentário