ao longo da vida vamos percebendo
que existem formas de a tornar um pouco mais confortável. e gostamos disso. em
adultos, a vida começa a custar demasiado para ainda termos de sofrer com
coisas desnecessárias. a verdade é essa. se és um adolescente inconsciente não comeces
já a estrebuchar, porque um dia vais dar-me razão – eu sei que é uma chatice
ouvir isto, mas é verdade. pia fininho se fazes favor que a vida aguarda-te. se
já estás nesta fase – alma de senhora idosa em fim de vida –, seguimos fortes. ora
então, eis algumas regalias que começamos a exigir. deixamos de ter vontade de
dormir em tendas. preferimos dormir numa camita. deixamos de ter pachorra para
os amontoados nos concertos e preferimos pagar mais por um lugar mais confortável.
e agora vou dizer-vos o que descobri este verão. estão preparados? é que eu não
estava. ora bem. cá vai. levar cadeira para a praia. já disse. sinto que envelheci
quarenta anos, já meio cansada da vida. mas sinto-me bem com isso. porque eu já
descobri que levar cadeira para a praia é a melhor cena de sempre e vocês ainda
não. é que depois de fazer isto uma vez deixei de ter vontade de deitar este
corpinho de sereia na areia. para além de ter vista para o que eu quiser – mar,
pessoas gordas a comer bolas de berlim (dá-me especial satisfação), famílias
disfuncionais, crianças a acharem que a vida é linda demais, corpos bonitos
(nos rapazes para galar, nas raparigas para invejar) – não sofro com dores nos pulsos
e nos ombros. sinto que ao utilizar a palavra “galar” envelheci mais dez anos. acabo
este texto com setenta e seis anos. achei que fosse pior. a gestão de
expectativas também se aprende com a idade. agora envelheci mais cinco. já vou nos oitenta e um. e é melhor ficar por aqui que não estou preparada para um número
maior. beijinhos.
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