na altura do confinamento nem tudo foi mau. aliás, foi quase tudo mau, à exceção de um ou outro ponto – para já só me lembro de um, ainda assim bastante relevante. no confinamento não via ninguém, não saía à rua. andava de leggings o dia todo e não ter de usar sutiã todos os dias fez-me quase entender as mentes livres que encontram malefícios na utilização daquilo que impede as nossas mamas de irem até aos joelhos. não que as minhas vão até aos joelhos, mas também não vamos por aí. o melhor do confinamento foi a não necessidade de fazer o buço, as sobrancelhas e arranjar as unhas – das mãos e dos pés. deixei de ter buço e passei a ter bigodaça covid. as sobrancelhas estavam ao nível daquele tio avô já meio velho com pêlos farfalhudos a apontar para todos os pontos da rosa dos ventos, sabem? as unhas dos pés encaracolavam e as das mãos davam para caçar a sujidade quase até aos intestinos - seja qual for o orifício de entrada, de nada. esta conversa toda para dizer que neste momento sinto que estou em modo confinamento sem estar – porque entretanto já podemos circular livremente e isso inclui ir ao escritório. e a chatice é que já se começa a notar uma bigodaça covid, os pés já fazem ferida nos dedos ao andar e as unhas das mãos já vão mais longe do que deviam. mas atenção. a bigodaça covid disfarça porque ando sempre de máscara. agora o que precisava mesmo era de uns óculos tipo mergulho para tapar as sobrancelhas e umas luvas de neve para tapar as garras. alguém me arranja um kit destes ou vou ter mesmo de fazer o buço, sobrancelhas e unhas? é que não me apetece nada. meninas, não se façam de difíceis. eu sei que vocês estão comigo. atenção que só falei em buço, sobrancelhas e unhas. muita atenção. vá, beijinhos.
terça-feira, 22 de setembro de 2020
sábado, 12 de setembro de 2020
venha a cidadania
terça-feira, 8 de setembro de 2020
paul walker das ambulâncias
já alguma vez experimentaram quase morrer abalroados por uma ambulância? pois. eu também não até ao domingo passado. e preferia ter continuado assim. tal foi o choque que só hoje me sinto em condições de deitar cá para fora. estava o trânsito parado numa rotunda. e eu estava parada no meio de uma entrada. eis senão quando vejo uma ambulância em marcha de urgência a alta velocidade - como se não estivesse trânsito nenhum - a enfiar-se quase no meu carro. nota: era de noite, por isso as luzes intensificam-se. e o pânico também. eram luzes azúis a fazerem-me epilepsia. o tinoni a furar-me os tímpanos. e os máximos a deixarem-me o batimento cardíaco intermitente. achei que ia morrer. e o gajo da ambulância em vez de ter uma urgência passava a ter duas. como no café, quando pedes um mas afinal são dois, sabem? o empregado a gritar: oh jorge, pass'á dois! eu pagava para ter visto a minha cara de terror. é que gritei e tudo. aquele grito histérico pré-morte trágica, sabem? não tive reação e fiquei parada à espera de morrer. até que passado um segundo percebi que o senhor velocidade furiosa tinha parado - praí a cinco centímetros de mim (estou a exagerar, mas ao mesmo tempo acho que cinco centímetros é justo para o susto que apanhei) - e fiz marcha atrás com as pernas meio dormentes e ainda a levar com as luzes azúis. e o tinoni. e os máximos. estes gajos das ambulâncias armam-se em campeões da estrada. era ele ter-me levado à frente que a urgência dele passava logo a ser outra. palhaço. ia buscar quem? um velho de cento e dez anos em paragem cardíaca? calma, é humor. não é não. uma paragem cardíaca aos cem anos é um pedido biológico de clemência. deixem-nos ir. beijinhos, vá.