quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

eletrocardiocaraças

recebi ontem uma chamada de um número desconhecido. estava indecisa a ver se atendia ou não. atendi. era a rapariga da medicina do trabalho. e não consegui escapar. olá joana, é para marcar os exames médicos da medicina do trabalho. qual é a sua disponibilidade? pronto, já fui. o meu cérebro bloqueou por breves segundos e quando voltei a pensar decidi marcar o mais rápido possível que era para não ter muito tempo para pensar em mariquices. e mesmo assim de um dia para o outro já deu para imaginar muita coisa. nunca tinha feito tantos exames médicos como hoje. fi-los porque fui apanhada na curva. ou porque fui obrigada. mais isso. tendo sido apanhada de surpresa ou não tinha que os fazer de qualquer maneira. análises. nunca tinha feito análises na minha vida. impressionante, não é? hoje foi o dia. já posso dizer que fiz chichi para o copo. e ainda bem, porque não podia morrer sem saber qual era a sensação de fazer chichi para um copo. não é bonito. tinha que estar em jejum, claro. mas acordei mais cedo do que o suposto. e o meu estômago começou a dar de si também mais cedo do que era suposto. mesmo ainda antes de sair de casa pensei que fosse cair para o lado. olhei-me ao espelho e estava mais pálida que uma parede branca. nunca desmaiei. mas estava a achar que era hoje também me estreava nessa matéria. peguei no carro e fui a conduzir muito devagarinho. ou não fosse mesmo cair para o lado. e se isso acontecesse sempre provocava menos danos. vejam só o drama. não se esqueçam do texto de ontem. eu sou uma maricas. sou mesmo. choro com agulhas. só de as ver. bom, hoje lá fui. estava sozinha e pensei que tinha de me comportar. disse ao tipo que nunca tinha feito análises e que tudo era novidade para mim. menos as agulhas. essas conheço-as eu bem. e disse também que provavelmente ia chorar e pedi que não fosse alvo de chacota. o que me vale é ter boas veias. não chorei. mas também não vi o tamanho da agulha. nem vi o sangue. se não o cenário teria sido bastante diferente. eu acho que de manhã, ainda em casa, só de olhar para o chichi no copo se me ia dando o badagaio. análise feita. estava eu pronta para ir embora. toda contente porque o pior já tinha passado. eis senão quando me dizem que tenho mais três exames agendados. desculpe? como? eu? eu tenho mais exames? quantos? quando? hoje? agora? juro que isto se passou assim. lá fui. obrigada. pois claro. de outra forma nem as análises me tinham feito. exame ao toráx. dispa-se da cintura para cima e vista a bata. ainda tinha uma esperançazinha em não ficar em pelota e perguntei tiro também o sutiã? claro que tive que tirar o sutiã. sua burra de merda. exame ao toráx querias tirar o quê? e a bata era mais que transparente, claro. bom, exame ao toráx feito. seguiu-se o exame oftalmológico que não foi novidade nenhuma. o pior foi quando me chamaram para o eletrocardiograma. nem sei bem o que é. ninguém explica. só querem é ver-nos em pelota deitados na marquesa e o resto é conversa. outra vez: dispa-se da cintura para cima e deite-se na marquesa. e mais uma vez lá vou eu com a esperançazinha de poder ficar de sutiã. claro que não podia. imaginem que era um tipo giraço e todo no sítio a colocar-me ventosas nas maminhas? p'lamor de deus. esta história de ir ao médico não é fácil. é por isso que não vou. não gosto da espera. não gosto de fazer exames. não gosto de agulhas. não gosto de mostrar maminhas a pessoas aleatórias. não gosto de nada. por mim morria podre por dentro, mas nem isso me deixam. agora o medinho é receber os resultados de tudo. finalmente vou saber se realmente estou podre por dentro ou não. mas tão cedo não me apanham numa destas. a não ser que seja mais uma vez obrigada. aí não tenho opção de escolha.

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

eu sou destas

eu sou insuportável quando estou doente. eu sei. e por doente entenda-se constipada, engripada. quando é pior que isto estou quase a morrer. e nessas alturas em vez de falar gano. sim, gano. do verbo ganir. a minha irmã já sabe o que a casa gasta e quase nunca me liga nenhuma. ela tenta disfarçar a falta de paciência, mas eu topo-a bem. tenho de implorar pela sua atenção e pergunto coisas que já sei, mas preciso da sua confirmação para ficar bem comigo mesma. quantas mais pessoas estiverem solidárias comigo melhor. mesmo que se trate apenas de uma gripe. como é o caso. comecei com dores de garganta no sábado a rezar para que não fosse amigdalite. não era. e ainda bem. mas agora precisava de uma botija de oxigénio porque tenho as duas narinas entupidas e respirar não está fácil. respiro pela boca. e mal. vêem? não consigo evitar queixar-me. está-me no sangue. mas isto é uma chatice. porque pelo nariz não respiro. e a boca começa a secar ou então entra tanto ar não filtrado (porque não tenho pelos na boca, que estranho) que tenho vontade de tossir. há pouco fui lavar os dentes e por momentos pensei que fosse morrer asfixiada com pasta. nariz caput. e o único buraquinho por onde consigo respirar estava tapado. que beleza. já tomei muitos medicamentos. muitas pastilhas. muita mebocaína. muito chá. no primeiro dia queixava-me da garganta e dores no corpo. até hoje estava a conseguir manter as queixas. mas a coisa mudou de figura. afinal tinha de chatear a minha irmã com outra coisa que já não havia pachorra para a história das dores de garganta. agora o que me está a lixar o esquema é mesmo o nariz. amanhã não sei bem do que me vou queixar. talvez tosse? hoje já deu sinais de que está para vir. eu gosto mesmo é de me queixar. e de ter quem me oiça, claro. tenho pena de quem tem que me aturar nestas alturas. algum dia que esteja internada vou ser daquelas de quem os enfermeiros se esquecem sem querer. lição a tirar: nunca me internem porque vou acabar por morrer esquecida. porque sou uma doente chata. porque só me queixo. 

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

pê-dê-á

e o trauma das festas de fim de ano? há por aí pessoas a sofrer do mesmo que eu sei. não consigo lembrar-me de um ano em que a dita pê-dê-á não tenha sido um flop. é uma noite que não gosto. por várias razões. há sempre milhares de programas, mas no final ficas apeado e juntas-te a um grupo de pessoas que nunca viste na vida. normalmente não as voltas a ver. mas depois sem te aperceberes já são amigos no facebook. porque entretanto o à vontade dos copos deu-te para aceitar os pedidos de amizade dos compinchas da passagem de ano. no ano seguinte já foram excluídos dos teus contactos e voltas a não saber quem são. na verdade nunca soubeste. outra razão que me leva a não gostar desta época festiva é a volta para casa. nunca há uma merda de um taxi. metros caput. boleias nem pensar porque vai tudo bêbado de certeza. autocarros, só se quiseres chegar ao destino final em cuecas. como já quase me aconteceu. também não gosto da passagem de ano por ser imposta. naquela noite quem não sair para os copos e para a puta da loucura é um ovo podre. é um antissocial e não sabe nada da vida. como se a passagem de ano não acontecesse todos os anos e como se o próximo ano não fosse só mais um. muitas são as resoluções. os desejos. mas depois as pessoas acham que as coisas caem do céu. exemplo: arranjar emprego. (um à parte, quando pedem os desejos pedem por favor ou são rudes e ordenam que aquilo aconteça durante o ano que se segue?). amigo, se não mexeres o rabinho não te vai aparecer uma proposta de emprego caída do céu. a não ser que sejas filho-sobrinho-neto-primo-afastado-amigo-do-primo-do-papá-ou-da-mamã de um cunhas qualquer. e isso não está correto. queres trabalho, procura. sim? enfim, banhos de champanhe vindos de pessoas aleatórias também não é algo que me agrade. tudo bem que estão todos muita felizes, mas pa, dispenso. a sério. eu sei que neste dia as pessoas sujeitam-se até a levar com merda em cima, mas por muito que tente, não consigo incluir-me nesse maralhal de pessoas demasiado felizes que até levam com merda se for preciso, porque afinal é a pê-dê-á, e é para partir tudo. todos os anos digo que não volto a festejar a passagem de ano. todos os anos me convencem do contrário. a ver se este ano consigo ficar em casa enrolada na manta a ver o ano a passar pelo mundo fora. eishh, que deprimente. vá, a ver um filme, então. ou uma série. ou simplesmente a dormir. eishh que deprimente. é. então se estiver a chover melhor para mim. sempre é mais uma desculpa para me deixarem estar sossegada. 

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

low battery

o som da loiça a ser arrumada está no topo da lista dos barulhos mais irritantes de sempre. está taco a taco com o zumbido de mosquito a meio da noite. e o pior nem é quando sou eu a arrumá-la, mas sim quando está alguém a arrumar os pratos, os talheres, os copos. tudo a tilintar e eu a ouvir todos esses sonzinhos que se me entram pelos tímpanos adentro e fazem estremecer os miolos. agora imaginem isto mas com uma dor de cabeça que até dá vontade de vomitar. eu quase chorei. acho que fiz beicinho e fechei os olhos com força. mas não saíram lágrimas. não sei como. porque estava a ser muito doloroso. é uma sorte estar a conseguir olhar para o ecrã do computador. há bocado nem para telefone com o brilho no mínimo. coitadinha de mim. ainda não parei de me lamentar, não foi? amanhã volto com mais energia. 

sábado, 3 de dezembro de 2016

ahhhh, o natal

está um dia de merda, não é? nestes dias temos um leque de coisas para fazer à nossa escolha. podemos optar por ficar em casa e devorar a despensa. podemos arriscar ir para o colombo ter um ataque de nervos. como já estamos em dezembro podemos também querer decorar a casa com coisinhas de natal. hoje está um belo dia para escrever sobre o natal, não está? para isso e para comer. vou aproveitar enquanto tenho as castanhas no forno para escrever umas coisinhas lindas para vocês, boa? ora, já todos sabem que eu e o natal temos uma relação complicada. o natal só tem uma parte boa. não são os presentes. não é a reunião familiar. e também não é a comida. são as férias. o natal é uma desculpa ótima para ter férias. quem não? tudo o resto é mau. já pensaram sobre isso? ora vejamos. montar e desmontar a árvore. qual é a parte gira nisto? para além de ter que ir à arrecadação mexer em caixas com pó, a bricolage nunca foi o meu forte. não gosto de montar móveis do ikea e muito menos de montar e desmontar árvores de natal. na verdade, a árvore de natal é um flagelo. o presépio. das últimas vezes que fiz o presépio coloquei-o dentro da lareira. a minha é daquelas que tem uma porta de vidro. e que nunca foi usada. foi um choque para os tios supé católicos. ahh, c'horror o presépio na lareira? mas vai arder? este ano ainda mais chocados vão ficar porque vão olhar à volta e cadê o presépio? tio, a arrecadação é no menos dois, o menino jejus (sim jejus, porque é dito supé rápido) e o resto da trupe estão algures embrulhados em jornais algures numa caixa cheia de pó. quem quiser sinta-se à vontade para o ir buscar. fica durante a consoada e volta imediatamente para o menos dois assim que acabar o jantar. os presentes. os presentes cada vez me chateiam mais. joana, o que queres para o natal? peço sempre o meu perfume. uso todos os dias e até me dá jeito que mo ofereçam. que eu tenho gostos muito caros. sou supé beta e supé de bem. este ano disseram-me que não ia dar para me oferecerem o perfume. oh que merda, mais a porcaria dos presentes. apetece-me dizer que não quero nada. mas depois fica-me mal. oh joana, não queres nada? nem uma caixinha de chocolates? muito menos uma caixinha de chocolates! quero cuecas, meias. pasta de dentes. cereais para o pequeno almoço. coisas que uso no dia a dia, boa? o colombo. as amoreiras. a baixa. o raio que vos parta. tudo cheio de gente. as filas do supermercado. infindáveis. dezembro é o mês em que se passa fome cá em casa, porque fazemos de tudo para não pôr os pés nessas superfícies retalhistas que nesta altura têm mais pessoas do que comida. tenho vindo a aprender a lidar com toda esta história do natal. há uns tempos ficava irritada. com os nervos em franja. este ano estou a tentar manter a calma. mas a empregada que não me venha com ideias de ir buscar a árvore ao menos dois. nem o boneco de neve. nem o presépio. nada. este ano o único enfeite de natal que vou ter em casa é a pêpa vestida de rena. agora vá, beijinhos que já me cheira a castanhas.