domingo, 25 de dezembro de 2022

viver sozinha é bom demais

quando decidi sair de casa da minha mãe senti que já andava há demasiado tempo à mama. assim que comecei a ganhar o meu dinheiro a minha mãe deixou de patrocinar a minha vida, à exceção do hotel onde vivia – com comida, água e roupa lavada. ainda que a comida fosse eu que a comprasse e fizesse. estava numa guest house com privilégios de filha. e já estava na hora de saltar. não que não gostasse de viver com a minha mãe, mas já chega. está na hora de ter o meu espaço e a minha mãe o dela. está na hora de virar adulta - com tudo o que isso tem de bom e de mau. os meus amigos ficaram contentes por mim, na família os mais novos também. senti por parte de alguns inveja boa – que é aquela que nos faz querer ser mais e melhor. e isso foi bom. por outro lado, senti também algumas pessoas baralhadas – aqui os mais velhos. vais viver sozinha? como assim? estás bem? arranjaste um namorado, foi? não, não foi. não arranjei namorado. estou ótima e vou viver sozinha porque quero. mas estás feliz? quase que apetecia perguntar se queriam algum selo de garantia de felicidade – o que quer que isso queira dizer. a verdade é que senti algumas pessoas com dificuldade em gerir a vida que é minha. viver sozinha foi uma das decisões mais importantes da minha vida, mas nem por isso me custou tomá-la. custou-me sim, encontrar um sítio que não me levassem um rim e um pulmão e que fosse minimamente aquilo que procurava. mas felizmente inventaram aplicações que nos mantêm a par de tudo o que acontece ao minuto. foi assim que encontrei a minha casa na altura. ora. viver sozinha é acordar quando quero, comer quando quero. ver televisão se quiser e o que quiser. é ter a luz acesa se me apetecer e apagá-la se me apetecer também. é não ter que dividir sofá. é não ter que dividir casa de banho. e é também puxar o autoclismo menos vezes (chichi, calma). viver sozinha é escolher toda a decoração da casa e tê-la ao meu jeito. é jantar ovos mexidos e uma sopa. ou javardar um bic mac com uma manta em cima e netflix num episódio da emily in paris que às vezes também é bom ter vento a passar no cérebro. viver sozinha é estar agora em frente a um computador a escrever sobre viver sozinha com um copo de tinto ao lado. se já bebi? ainda não. vou fazer uma pausa agora, esperem lá. já bebi e ao mesmo tempo contemplei a minha casa. e os meus cães que dormem que nem uns moribuntos, cada um no seu sítio. lá fora é natal e chove. digo lá fora porque não enfeitei a minha casa com coisinhas de natal. os enfeites que lhe pus sem serem de natal ficam-lhe muito melhor. e são menos espampanantes. e não enfeito a minha casa com coisas de natal porquê? porque posso. isto também é viver sozinha. viver sozinha é bom demais, quando digo demais é mesmo no sentido literal. porque dificilmente conseguirei viver com alguém. há quem tenha pena, porque coitadinha, não endireitou a vida. e há quem chame a isto egoísmo. eu chamo ter o meu sítio ao meu jeito e fazer o que quero quando quero. agora vou tomar banho e pôr-me bonita para o jantar de natal em família. estou a pensar ir de vestido para ver se consigo comer sem ter que desapertar os botões das calças. beijinhos, muitos muitos.