quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

a epopeia do meu fiat 500x

boa noite. podem ir buscar a manta e pipocas. a história que se segue é verídica e contém palavras que poderão ferir a suscetibilidade dos mais coninhas. ahhhh, ups. vou contar-vos a epopeia que foi vender o meu carro - para além das lágrimas que teimam em não parar de me cair pelas bochechas abaixo. atenção que agora vamos entrar em modo rápido. um, dois, três. anúncio no standvirtual. bué contactos. contactos de stands. nem um particular. aceita trocar por um pacote de amendoins descascados? não. aceita trocar por um carro sem pneus, volante e vidros à manivela? não. não, não, não. vão todos com o caralho. o meu carro vale muito. e se lhe puser valor emocional vale bué milhões. outro contacto. pede-me o carro em troca de um caniche deficiente. foda-se, não. próximo. ok, este não tá a gozar comigo. negoceio valor. ficamos a meio caminho. fechamos proposta. e aqui voltamos a desacelerar o ritmo. pausa para respirar. porque isto vai ser intenso. no dia em que combino ir mostrar o carro para fechar negócio eis que tudo me corre mal. enquadramento. o carro está em casa da minha mãe. as chaves estão comigo. as pilhas das chaves estão em minha casa - já lá vamos. e eu já estou em casa da minha mãe. é o dia de ir ao stand - sexta feira ao final do dia. bora, rápido outra vez. estou em casa da minha mãe. abro o carro. o carro não abre. foda-se, a chave está sem pilha. não acredito, eu tinha pilhas em casa. tive quase para as trazer, mas achei que não ia precisar. mãe, temos de ir a minha casa buscar a pilha para a chave. o carro não abre. vamos buscar as pilhas a minha casa no carro da minha mãe. trânsito do caralhinho e eu em transe. ligo ao stand. olhe, não vai acreditar no que me aconteceu. o carro não abre, estou a ir a minha casa buscar a pilha. chego à porta de casa. mão na mala. mão nos bolsos. mão nas cuecas, soutiã e sapatos. não tenho a chave. foda-se! onde é que está a merda da chave? não acredito, não pode ser. toco para os vizinhos. ninguém responde. só depois de me ir embora percebi que afinal estava a tocar para a minha própria casa. vim embora. mãe, eu não acredito. não tenho a chave de casa. e os vizinhos não estão (lol). temos que voltar. vamos comprar uma pilha e vamos para o stand. voltamos para o trânsito do caralhinho. continua a ser sexta feira ao final do dia. eu continuo em transe. ligo para o stand. olhe, eu percebo que não acredite. mas eu ia buscar a pilha da chave do carro a casa e não sei o que fiz à chave de casa. peço imensa desculpa. hoje o dia não me está a correr nada bem. continuo em transe. onde vou comprar uma pilha agora? colombo? esquece. trânsito parado. e agora? eles vão achar que eu estou a gozar. continuo em transe. tou? olhe, hoje tudo me está a correr mal. não acho boa ideia ir aí com o carro. de certeza que vou ter um acidente. é só o que falta. e depois não vendo o carro. e é uma chatice. vou para casa. combinamos amanhã, pode ser? pode. marcado no dia seguinte. acordo vou cedo para casa da minha mãe. já com as pilhas novas. agora tem que funcionar. abro o carro. foda-se. o carro não abre. começo a chorar. e agora? o carro está estragado. ninguém o vai querer. a senhora do stand vai achar que estou a gozar com ela. choro mais um bocadinho e ligo-lhe. tou? olhe, eu já não sei bem o que lhe dizer e acredito que não acredite em mim, porque eu própria estou com dificuldade em acreditar. mas o carro não liga. será a bateria? ela relaxa-me. de certeza que é a bateria, chame a assistência. chamo a assistência. vem um tipo impecável. põe o carro a funcionar, mas a bateria não carrega. vai de comprar uma bateria nova. bateria comprada. o carro liga. o carro anda. pasmo-me. agora choro mas de emoção. ele mexe. voltou a valorizar. e agora respirem que voltamos a desacelerar o ritmo. porque estou cansada só de escrever. o coração está a bater muito rápido. podem pousar as pipocas. vendi o carro. vi-o ir embora e disse-lhe adeus até o perder de vista. estou triste e contente. foi o meu primeiro carro e foi com ele que assinei os primeiros papéis de adulta. pedi ao senhor do stand para o vender a gente boa. educada. e com a cabeça no sítio. ele riu-se e disse que ia tentar. mentiu-me, mas foi uma mentira boa. que dias intensos. beijinhos. não a vocês, mas ao meu sessenta vê á vinte. vou ter saudades.