ultimamente têm-me dito que sou uma rapariga cheia de sorte. esta conversa da sorte faz-me algumas comichões. porque para mim a sorte não existe. sorte para mim é ganhar o euromilhões sem jogar. não digo que é ganhá-lo jogando, porque isso não acontece. ou vá, raras - muito raras - vezes acontece. a minha avó joga no euromilhões desde mil oitocentos e três e o máximo que ganhou deve ter sido uns dez euros. se tanto. e por isso é que é um negócio. e os casinos idem. a sorte é fruto de muito trabalho. de muitas pestanas queimadas. de muitos miolos a funcionar (e não apenas a existir) vinte e quatro horas por dia. a sorte, neste caso, não acontece a todos. e os azarados, como lhes chamam, são os que não sabem aproveitar as oportunidades que a vida se encarrega de dar. os azarados são os pouco trabalhadores. os desinteressados. os desgraçadinhos. e os sortudos - como dizem que sou - são uns abençoados (seja lá o que isso queira dizer) e a vida sorri-lhes sem motivo aparente. a vida corre-me bem porque trabalho que nem um cão. e faço de tudo para ser boa naquilo que faço. se isso implica dormir pouco? pois. vendo bem talvez não tenha uma vida assim tão fantástica. talvez não tenha assim tanta sorte. é que para mim dormir é tão fundamental como respirar.