terça-feira, 18 de abril de 2017

pequenos ditadores

cá me parece que o mundo está de pernas para o ar. talvez não seja de agora. talvez nunca tenha estado com as pernas no sítio delas. talvez agora esteja mais desperta para isso. porque, ora vejam só, cresci. sinto que existe muita falta de educação. princípios. valores. as pessoas não sabem viver em sociedade. somos uma amálgama de animais pouco pensantes onde ganha o mais chico esperto. as pessoas não sabem pedir por favor. muito menos agradecer. não sabem pegar nos talheres à mesa. não sabem comer. não sabem falar. não sabem estar. tantas vezes que levei com a colher de pau por ter os cotovelos na mesa. tantas vezes fiquei na mesa de jantar sozinha até acabar o que tinha no prato. tantas vezes fui obrigada a comer coisas que não gostava, porque se não gostas comes mais para aprenderes a gostar. tantas vezes ouvi não arrastes os pés, põe-te direita, come, não faças isso. hoje as crianças têm livre passe para tudo. clarinha, querida, não quer comer sopa? não coma. não tem mal. ah, e não gosta de espinafres, quer dizer, dos verdes, não é? estas crianças estão a tornar-se pessoas insuportáveis. vão ser insuportáveis na escola. em casa. no trabalho. vão achar que o mundo existe para as servir. e elas nasceram para mandar. meus queridos, dar umas boas palmadas quando as crianças parecem não entender a mensagem não faz de vocês agressores, está bem? ou então eu fui vítima de violência doméstica. mas tenho ideia que não. só me fez bem. hoje rio-me e agradeço que tenha sido assim. se não seria hoje o que a clarinha vai ser daqui a uns anos: uma monstrinha que nasceu para mandar e ser servida.