ninguém gosta de casas de banho dos aviões. quem disser o contrário está a mentir. ah, por acaso até nem me faz impressão. dá igual. é como as outras. não, meus amigos. uma casa de banho pública do centro comercial é uma coisa - que também tem pano para mangas -, uma casa de banho de avião é outra. só de pensar que nunca sei como é que a merda da porta se abre já entro em pânico. sempre que entro faço uma espécie de simulação para não me passar quando for para sair do género, ah deixa lá ver se isto ficou bem fechado. é, é. estou é com medinho de ficar la fechada ou fazer figura de urso (como já uma vez aconteceu) a pensar que estava trancada, mas no final de contas estava só a abrir a porta no sentido errado. escusado será dizer que saí lá de dentro a suar por todos os poros e com o coração a mil. next. outra coisa muito importante quando se vai a uma casa de banho num avião é a concentração. se já numa casa de banho pública normal é complicado imagine-se com o chão todo a tremer por baixo dos pezinhos. ora, concentração para o chichi não ir pelas pernas abaixo. para não salpicar para onde quer que seja. para não bater com a cabeça na porta. não tocar no lavatório. para a roupa não tocar em nada. e os cabelos? bem arrepanhados para não raspar sem querer não sei onde e ganhar micose. acima de tudo, evitar contacto com o que quer que seja - que nojo. falar do cheiro a mijo nem vale a pena. sim, mijo. chichi ressequido. do senhor que foi à casa de banho no início da viagem quando ainda faltam oito horas para chegar ao destino. é apertar atacadores, cabelo, suster a respiração e esperar que corra tudo bem. e o autoclismo? fogo, isto é o pior. é tão mau. gosto tanto daquela porcaria que às vezes até me esqueço de puxar. juro. é nojento. mas o meu cérebro bloqueia. porque assim que saio e fecho a porta lembro-me que não puxei e que a pessoa que foi a seguir a mim vai achar que sou nojenta e mal criada. não sou juro. mas o meu cérebro salta essa etapa sem querer. aquele barulho ensurdecedor a sugar aquela porcaria toda sabe-se lá para onde deixa-me nervosa. e tendo em conta que já vou lá para dentro preocupada com tanta merda esqueço-me, pa. acho que é normal. e muita sorte tenho eu de já ir à casa de banho. é que antes aguentava e chegava a terra cheia de dores. mas cheia. sem conseguir andar, quase. era muito mau. por isso decidi que devia começar a ir à casa de banho nos aviões. e como vêem não é nada fácil. ehh, mas só vale chichi. o resto que se aguente. nem que fique entupida até às orelhas.
segunda-feira, 5 de setembro de 2016
sexta-feira, 2 de setembro de 2016
acampar é mesmo giro
este verão decidi que tinha de fazer algo diferente. alguma coisa que me tirasse da rotina casa-praia-casa-copos-casa-praia e por aí em diante. achei então que acampar era uma boa ideia. há sempre um amigo que tem uma tenda que possa emprestar. saco-cama já tinha. toca de comprar colchões com um centímetro de altura. siga. vamos acampar. vai ser a puta da loucura! começámos por um parque de campismo. mal sabíamos o que nos esperava. reclamávamos das condições. casas de banho partilhadas? chuveiro público? e fazer cocó? fogo. a minha vida estava a andar para trás. ou tapava o nariz, fechava os olhos e pensava que estava numa retrete numa penthouse com vista mar ou ficava toda entupidinha o resto das férias. bom, passou o choque. até que a vida de campista nem é má. tirando este ou aquele detalhe. as pessoas são muito simpáticas. há toda uma noção de comunidade e entreajuda que desconhecia por completo. a tenda era daquelas que se abrem e está feito. isso pensava eu. lembrava-me lá da porcaria das estacas... e espetar aquela merda no chão? trabalho duro. a primeira noite passou e tínhamos sobrevivido. mal, mas conseguimos. o colchão era tão confortável que se calhar mais valia dormir no alcatrão. sempre sabia para o que ia. enfim, está na hora de sair do parque de campismo. a próxima paragem é no festival do crato. toca a subir. três horas de viagem com trinta e tal graus lá fora e com o ar condicionado avariado. bonito. suava dos sovacos, do bigode, das virilhas, de todo o lado. tudo. não havia uma brisazinha fresca. nada. nem para enganar. chegámos ao recinto do campismo. já no crato. eu só estava a tentar perceber o que me tinha dado na cabeça para pensar que isto era uma boa ideia. era tendas a perder de vista. e miúdos entre os catorze e dezasseis anos também. eu não sabia se haveria de rir ou chorar. acabei por chorar a rir. não sabia bem o que estava a sentir. lá descobrimos um sítio para a tenda. isso tem sombra de manhã? sei lá, eu quero é montar esta porcaria que ainda me arrependo e vou-me embora. na hora de dormir, o que é que a joana tem por baixo do colchão? um buraco. pois claro. sou uma sortuda. não basta ter que dormir na porcaria da tenda, com uma merda de um colchão(zinho) e ainda tenho um buraco por baixo de mim. que sonho. estava a adorar. cansada da viagem só queria dormir para a aproveitar o dia seguinte em condições. qual quê! isto era uma piada com certeza. com a sorte, olho e experiência que nós temos para montar tendas, não bastava ter ficado com um buraco debaixo de mim como ainda tivemos de ficar meeeesmo juntinho ao bar/discoteca que havia nas zonas das tendas. que sonho. duas da manhã música aos altos berros. mas mesmo. imaginem que têm uma tenda montada mesmo ao lado das colunas do urban. ou do lux. ou do raio que vos parta. três da manhã, o chão continua a tremer. miúdos bêbados e com tosgas de ganza a gritar: o benfica é o maior, la la la la! não, o sporting é que é, la la la la! a cabeça prestes a explodir. inês, tens brufen? ficaram no carro. merda. e continua... quatro da manhã improviso tampões com papel higiénico. nada. parece que estou num terramoto. cinco da manhã nada. seis, sete. aquela merda tocou a noite toda! toda!! será isto possível? estou, sim, bom dia, tem um quarto para três pessoas até dia vinte e oito?
ainda hoje agradeço não ter ficado naquele miserável campismo. tive umas férias diferentes. como queria. e não tive que dormir numa tenda durante uma semana. mais agradecida que isto é impossível.